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Não é tarde pra mudar de ideia

by Letícia Leiva
Foto: Luís Inácio Lula da Silva / reprodução-fb

é preciso de alguma coisa que atraia a vida”
Torquato Neto

17.10.2022

o presidente do país apareceu no meu pesadelo.
dentro de um lago uma pessoa afogada boiava.
ele observava e eu também.
estar passivo no lugar de observador:
ai, como é (in)cômodo.

[pausa]

“é hora de tirar as mãos dos bolsos”
(Outros, Grupo Galpão)

Não é tarde pra mudar de ideia.

É preciso começar de novo. Sempre há tempo. Volto a esse texto agora, dia 26 de outubro de 2022, aniversário de 56 anos do meu pai, às 22h58. Dessa vez começo as frases em letras maiúsculas. Eu, que não costumo mais usá-las, precisei recorrê-las pela seriedade do assunto. Nunca escrevi um texto tão sério. Nunca quis tanto fazer algum-qualquer-coisa com as palavras na tentativa, sim, tentativa, de/. Não sei. Fiquei sem coragem de dizer mudança. Pareceu um tanto prepotente e impossível. Mas no fundo é isso mesmo: modificar alguma coisa. 

Não é tarde pra mudar de ideia. 

É muito sério o que estamos vivendo e eu me sinto sem forças para encarar um país sendo governado por Jair Messias Bolsonaro. A palavra arrepia só de dizer o nome. Meu estômago dói. Estamos em um retrocesso ideológico incalculável. 

(Por favor, assista à esse vídeo. O que você sente?)

Eu só fui entender o que era me sentir viva de verdade quando entendi que eu tinha alguma capacidade de questionar e inventar mundos. Eu entendi, pelo Teatro, que isso era possível. Essa foi a minha saída. 

Encontrei aí alguma coisa que atraía a vida. Não sei qual é a de vocês. Se existe. 

Acho que precisamos de ferramentas pra conseguir sobrevivência em um mundo doente. Num sistema que não quer que pensemos e nem que saibamos como ele funciona. Numa sucessão de acontecimentos inacreditáveis. Em uma praça vazia rodeada de prédios comerciais com luzes acesas até a madrugada. Às vezes penso: não é tudo tão óbvio? O que está acontecendo? Volto pro ponto onde não sei de nada. 

Começo de novo. Refaço a trajetória. Estudo. Não há outro caminho possível. 

Não há possibilidade de deixarmos na cadeira da presidência do nosso país, novamente, ele. Eu tenho medo. O que está em jogo diz de um comportamento de um povo. Já nos odiamos demais e não precisamos de alguém que nos incentive a alimentar nossa mediocridade. Enquanto pessoas estiverem sendo oprimidas e desrespeitadas, não há conversa. Nenhuma. É simples. Inegociável.

Quando lembro que não sei de nada me ancoro nas minhas referências. Caminham do meu lado pessoas que tenho profundo respeito. Pessoas que constroem, que realmente fazem no seu dia a dia um qualquer-coisa pra diminuir as dores desse país.  

Qual a sua contribuição? Qual a minha? O que estamos realmente fazendo? 

Não é tarde pra mudar de ideia. 

Uma certeza eu tenho: não andarei ao lado daqueles que, por não darem conta de suas próprias existências, querem aniquilar outras. Hoje me oponho. E, neste caso, está bem fácil de decidir. Não sei de muita coisa. Pelo contrário, vivo aprendendo que não sei mesmo quase nada, mas tenho algumas certezas que não abro mão. 

No dia 30, vamos de 13, vamos de Lula. Há esperança. 

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