Foto: Luiza Machala
O espetáculo “ZuZus”, inspirado na trajetória da estilista Zuzu Angel, estreia no dia 18 de novembro, às 20h, na Funarte MG, em Belo Horizonte. A montagem é o novo trabalho do ajuntamento Mulheres na Dança, formado pelas bailarinas Márcia Neves, Marise Dinis, Flavi Lopes e Gabriela Christófaro, com orientação dramatúrgica de Rita Clemente. A curta temporada segue até 19 de novembro, com entrada gratuita mediante retirada de ingressos uma hora antes de cada sessão. A apresentação do dia 18 contará com audiodescrição.
A criação utiliza a linguagem da dança contemporânea para revisitar a história da estilista mineira que transformou a moda em instrumento de denúncia durante a ditadura civil-militar no Brasil. Em cena, cerca de 250 peças de roupa se integram aos movimentos das bailarinas, compondo um diálogo entre corpo, memória e resistência. A performance parte do legado de Zuzu Angel, que usou a arte e a costura como meios de expressão política após o assassinato do filho, Stuart Angel Jones, nos anos 1970.
A bailarina Márcia Fabiano Neves, uma das idealizadoras, afirma que o trabalho reflete sobre a permanência das violências e desigualdades denunciadas por Zuzu Angel. A artista aponta que as relações de gênero e as condições enfrentadas por mulheres em diferentes contextos sociais seguem marcadas por opressões estruturais. Segundo ela, a obra propõe um olhar sobre a resistência feminina diante de realidades patriarcais e excludentes.
A bailarina Marise Dinis complementa que o processo de criação de “ZuZus” explora as práticas manuais como costura, bordado e customização, como expressões de subversão e sobrevivência. Para o grupo, a trajetória de Zuzu Angel simboliza a força das mulheres que, em diferentes épocas, se arriscam para enfrentar injustiças e criar novos caminhos de existência.
Nascida em Curvelo (MG), Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, consolidou sua carreira nas décadas de 1960 e 1970, no Rio de Janeiro, quando a indústria da moda ainda era dominada por homens. Após a morte do filho, a estilista passou a incluir em suas coleções símbolos como pássaros enjaulados e tanques militares, transformando o desenho de moda em manifesto político. Em 2025, quase 50 anos após sua morte, o Estado brasileiro reconheceu oficialmente que ela foi vítima de assassinato político.
O processo de criação de “ZuZus” teve início em 2022, quando Márcia Neves e Marise Dinis aprofundaram a pesquisa sobre a vida e a obra da estilista. O grupo desenvolveu improvisações, gestos e sequências coreográficas que expressam os efeitos da repressão e da ausência, temas ainda presentes em diferentes realidades sociais no país. O trabalho foi estruturado com a orientação dramatúrgica de Rita Clemente, que contribuiu com a construção narrativa e simbólica da obra.
As peças de roupa em cena representam tanto a produção estética de Zuzu Angel quanto o vazio deixado pelas vítimas da repressão política. O figurino, criado por Ananda Sette, remete ao período histórico retratado, com referências às calças boca de sino, vestidos de linha A e tecidos usados por trabalhadoras e empresárias da época. As cores — preto, branco, vermelho, verde exército e ferrugem — evocam memórias, dor e resistência. Detalhes como costuras aparentes e remendos simbolizam a reconstrução e a continuidade das histórias femininas.
A trilha sonora original, assinada por DJ Black Josie, utiliza releituras de músicas dos anos 1970 e sons que remetem à censura e à repressão política. A artista constrói uma paisagem sonora que dialoga com o movimento das intérpretes e reforça o caráter histórico e político da obra.
SERVIÇO
Estreia espetáculo “ZuZus”, na Funarte MG
18 e 19 de novembro de 2025
Terça-feira (sessão com audiodescrição) – às 20h
Quarta-feira – às 20h
Funarte MG – Galpão 4 | Rua Januária, 68 – Centro
Gratuito – retirada de ingressos, na bilheteria do espaço, 1 hora antes da apresentação