Foto: Adri Riquena Fotografia
Olar.
“Tô de volta!”
Para voltar naquela explosão de sabor, preparei um presentinho de aniversário para xs piscianxs e aquarianxs, que têm carne e espírito conectados ao carnaval.
Demorei muito para escolher o som que marcaria a volta do “ouve comigo”, mas depois de muito procurar, encontrei a música perfeita. Foi “A nossa voz”, da Juventude Bronzeada, que me pegou (#semassédio). Além de ter um bocado de gente incrível nesse disco, a música traz o espírito do carnaval em uma expressão de luta e, ao mesmo tempo, de festa!
Então simbora, Carna Belô.
Ouve comigo!
Peixes em Aquário.
(Leia se estiver com tempo, não vale a pena ler com pressa 😉 )
Ofereci minh’alma ao diabo, mas não assino contrato fácil. Purgado, porém decidido, desci o primeiro degrau. Quando Deus me viu, ficou irado. Eu hesitava a cada passo como quem espera por algo grande, até que me gritaram lá do alto:
– Onde vais? Eu sou o caminho.
Mal sabia que era a peça. Meu bispo agora se movia escada acima, faminto por sacro e heresia, já que fome do sagrado é gula; e gula é pecado.
Antes de chegar ao topo, a imagem do todo resultou em vertigem. Caí sobre o último degrau na esperança de ser segurado e fui. Um rosto impávido clareava minha visão no tempo em que eu recobrava a consciência.
“Mas, é isso?” – Pensei.
Pensar não era mais o mesmo, era comunitário. Veio à tona o xeque-mate e, passados os cinco segundos de glória, o cavalo adversário me mandou embora. Juntei meus trapos de nada e fui, de volta às escadas, como se nada tivesse acontecido.
Encucado com minha própria sina, meditava sem parar sobre os sussurros que ouvi naqueles cinco segundos. De todos, somente um martelava minha cabeça e o fazia com a força de um rinoceronte. Como meu ego me levaria “de volta” ao inferno? Eu, hein! Nunca estive por lá, só cheguei perto. Além disso, se sou leonino, há quem culpar pelo amor fora de hora.
Não acredito em destino, mas também não acreditava nisso. Não custava nada tentar mudar o meu, voltei para negociar e, adivinha…
Todo aquele papo sobre raios não caírem no mesmo lugar caiu por terra (duas vezes, no mesmo lugar). Olhei para baixo, pisei em falso e acabei caindo de maduro.
Quando dei por mim, sentia a agonia de uma criança presa em um pula-pula furado. Enquanto era puxado por um estranho para fora de uma mulher que, para falar a verdade, nem era tão estranha assim, uma plateia se comovia com a minha chegada.
Eu procurava me comunicar com ela, que me parecia familiar, mas a moça só sabia gritar. Tentei imitá-la, mas creio que não nasci para o teatro. Todos caíram em prantos, chorei também.
Menos de cinco minutos de gritaria sincronizada e já vinha outro homem me cortar pedaços. Nem adiantava gritar por um médico, havia um na minha frente, mas que falava um idioma desconhecido. Não que eu conhecesse algum a essa altura.
Demorou algum tempo até internalizar que, só por ter nascido, eu já tinha alguém para obedecer. Mas isso é o de menos, o que importa mesmo é que isso aí aconteceu no fim de um mês de fevereiro. E sempre me disseram que era esse o motivo do meu paradoxo.
– Viver a lua imerso em sentimentos mundanos.
Por muito, viajei galáxias sem mover um dedo, como se esse fosse o meu propósito (como se fosse fácil). Afinal, para um peixe em um aquário, o mundo não satisfaz. Não por ingratidão ou mimo, mas por falta de espaço.
Com isso em mente, fui buscar minha própria história em cantos de novas viagens. Todas as carnes e luas que fui. A carne, porém, era somente metade de mim e parte insignificante do meu passado.
Depois de sentar-me em quase todos os lugares vagos de um possível quebra-cabeças, algum deles deveria me confortar. Acontece que meu conforto era itinerante, consistia em contemplar.
Hoje, de nada me importa a veracidade da minha própria história. A partir do momento em que nasci peixe no aquário, me foi dada a oportunidade de contar histórias da alma; não da carne.
Da água, mas com alma no espaço.
“Era a Juventude Bronzeada de Belô”♫:
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Parabéns demais aos envolvidos no disco pelas lindas composições, arranjos, artes, mixagem, masterização etc. O disco está uma delícia de ouvir!
Esta coluna não tem e não deve ter restrição de gênero!
Por que teria? A beleza de Belô tá na diversidade.
Tem um projeto ou uma música legitimamente belzontina? Manda pra cá! Será ouvidx com o maior prazer!
rafabraga@pulabh.com.br