gui,
são 2h07 e não poderia deixar de te escrever. acabo de chegar em um clube. faz frio, mas hoje me preparei para encara-lo. lembro que daqui a pouco seu corpo estará naquele palco de novo. isso ajuda a aquecer o meu. um corpo em movimento. pés, veias, costelas, pulmão, espinha dorsal, olho, retina, boca, língua, saliva, boca do estômago, nariz, calcanhar, joelho, cotovelo. tomo um vinho. me sento na primeira fila do teatro de bolso do sesiminas. sou sua plateia e essa também é minha estreia, afinal. me sinto em cada partitura desse espetáculo com você e choro. há um tempo que também caminho a sua caminhada. por algum acaso fomos parar nesse mesmo vagão. tanta vida em comum. toma comigo, então, esse vinho. me conta de você. são 03h05, ouço the call milton nascimento música que você me contou fazer parte do processo desse trabalho. danço sem movimentar um músculo. lembro do teu protesto, teu grito, teu berro calado. entro nessa dança com você. te encontro e desencontro. são 3h24. são 3h30. 3h40. gui, me conta do teu pouso nesse corpo. me conta da expectativa pra essa semana. são quase 4 e agora preciso dormir.
espero sonhar com um teatro.
você, rafael, amine, e toda equipe de um corpo, deram vida a um trabalho honesto, digno e potente. saí do teatro e pensei: que alívio. estamos vivos. você está vivo, meu amigo. você está vivo. imenso. quente. para esse frio, uma dose de um corpo vai bem.
merda,
LL
–
lê,
por aqui são 10h18, estou num banco de uma praça da nossa cidade degustando a paisagem das montanhas. o céu está muito azul e bonito, você já viu?! acabo de aquecer meu corpo com um dia lindo e com uma prática de yoga. estou muito feliz e leve. e agora suas palavras vieram como um macha quentinho, sinto até o cheiro. elas aqueceram meu peito, obrigado por isso. sim, um macha, não sei se sabe desse meu novo gosto. venho descobrindo vários novos e me descobrindo mais todos os dias. hoje acordei já me preparando para estar no palco de novo. na verdade fui dormir assim, em processo. eu tenho gostado disso, estar em processo. respirando. sentindo cada parte do meu corpo viva. vivo. medito isso. acho que virou meu estilo de vida. meditar é um presente, a vida é um presente, a arte é um presente. até me deu vontade de ouvir the call agora, mas estou sem meus fones. será?!… play!
acho que todo esse movimento começou de um desejo, uma necessidade de ritualizar o corpo aos 30. é/foi/está sendo um marco e tanto, um movimento de virada. intensa. uma libertação muito grande. e para além de mim, aprender e me dispor e me despir e colocar em respeito e reverência todos os outros corpos. dar passagem. evidenciar todas as camadas. protestar pelo direito de existir. me curar, colocar o corpo na rua e lutar pelo direito de um corpo que não é o meu. ser humano. em realização artística e social. dentre todos os desafios da nossa jornada nesse vagão, seguimos e estamos fazendo teatro. estamos nos palcos e também na primeira fila da peça-vida de cada um. isso é muito especial. são 11h07 agora e preciso ir, chegar em casa, arrumar o figurino e os objetos de cena, almoçar e ir para o teatro. me preparar para dar voz e movimento a um corpo. quem sabe conquisto mais olhares tão generosos quanto o seu. te olho nos olhos e brindo esse vinho com você! e com toda a equipe desse trabalho, rafa, amine, matias, e dani também que já sinto como parte desse caminho, nos cuidando tão bem nesse momento. um carinho, um chêro, um beijo.
merda pra nós,
gvilleto
último fim de semana
sab 20h e dom 19h
teatro de bolso do sesiminas
FICHA TÉCNICA
Concepção: Guilherme Villeto e Rafael Batista
Direção e Direção Corporal: Rafael Batista
Atuação: Guilherme Villeto
Iluminação: Lucas Matias
Direção de Arte: Rafael Batista
Produção: Amine Kalid
Fotos: Paula Amaral
Agradecimentos: Amanda Salles; Carolina de Pinho, Daniel Gama; Deborah Lopes; Eduardo Salles; Nicole Wingester; SESIMINAS.